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Pausa indeterminada

Analu Andrigueti não rega as plantas. Nem esse blog. Foi minguando até sumir. Então, melhor só avisar que lancei um livro novo, o 36 Poses. Que tá lindo! Pode ser visto ao vivo no site da Publicações Iara. E aqui alguns dos poemas favoritos que estão nele. São 36 retratos feitos em palavras, divididos em dois “filmes”, 12 poses de pessoas anônimas, que vi ou imaginei no metrô, na rua, nos meus caminhos. E mais 24 poses de conhecidos, ou inventados íntimos. Lá vai.Leves lordoses

Cabelos de Marilyn_Analu Andrigueti

Você é o diretor_Analu Andrigueti

Domingo No Parque

No Parque

Alegorias de Sade

carnaval

Desfilam, no Carnaval,
alegorias de Sade.

Duas vilãs nuas sobre o mastro,
musas aquáticas que atravessam
a carne do macho.

Línguas dormentes
acendem velas
que marcam o chão
e derretem cores.

Trois: a síntese semiótica sexual.
Triângulo nunca equilátero,
sem democracia possível.

As amigas de coxas grossas
batem uma aposta
enquanto ele adormece no jardim
abarrotado de cisnes.

O nobre ange bleu a decifrar
Baudelaire nos sonhos.
Para quê amanhecer?

Na janela,
pássaros desafiam a paciência delas
que berram pedindo: “cantem jazz”!

Uma marchinha de Carnaval,
finalmente.
Um violão qualquer
brada para que todos
abram as asas.

O trio vestido de suor
e amarelo
agora desvencilhado.

Recolhem latas vazias
e cinzeiros exagerados
de fumaça amanhecida.

Uma ducha quente
nas costas insensatas
da moça mais branca
que mergulha todas as manhãs.

Vozes e cabelos
fora do lugar.

Lábios agigantados
de um vermelho quase esmalte.

Não quero mais saber do lirismo
que não é libertação.
Nem da Marginal engarrafada
– só opressão.

De um lado o Volvo,
do outro, o Tucson.

Quase pego a ponte erra.
Essa tal de estaiada.

Eu no meu kazinho.
Com o cuzinho na mão.

Era uma correria. Navio de solteiros? Propaganda de telefone celular? Festa de Ano Novo na praia da moda na Bahia? Só gente bonita, colorida, vindo na minha direção. Mas não para conversar comigo, perguntar meu nome, me paquerar, abrir uma cerveja, me chamar pra dançar. Não! Eram dezenas de caras e meninas conversando entre si, uns jogando bola, casais se amassando, bebendo, rachando de rir, tocando guitarra, fumando um beck. Um fast foward jovem barulhento me atropelando. Eu, sozinha, de vestidinho florido, molhada de chuva, mar, ou lágrimas – tanto faz! – querendo entrar na onda boa. Mas invisível ou velha ou feia ou fora da rotação ou na contramão. Meus cabelos tristes, ensopados, pedindo atenção. Olhos de cachorro sem dono. Até que vejo você e dois amigos seus, com os dentes brilhando de tanta felicidade. E tenho vontade de arrebentar sua boca. Com um beijo.

Remanso. Saí do banho que acalmou um tanto. Antes estava assim: Maria Emília, rabanetes não são mágicos, apenas os feijões, aqueles sim. E daí pra pior. Era tanta energia desordenada. Primeiro subi a ladeira com um facão na mente, querendo aniquilar o primeiro ser humano do sexo masculino que cruzasse meu caminho. Mas então veio a imagem de um tabuleiro com o seguinte slogan, tipo brinquedo novo da Estrela: o amor depois dos 30 é um jogo de xadrez. A rainha vale muito. Mas o rei é quem decide. E você, Emi, é uma bestinha que ainda não aprendeu nem a mexer os peões!

Eu sou a faca. Você me dá a mão para um passeio no Ibira? Ou prefere continuar dando voltinhas com seu pitbull encoleirado? Liberdade dói.

Qual será o fantasma que vou ressuscitar hoje?
Devo chamá-lo para jantar ou para dançar?
Vou pintar as unhas de vermelho e comprar um vestido novo.
Assim vai parecer quer é a primeira vez.

Estou apaixonada. Por Morfeu. E dei para pedir o sofá dos amigos emprestado, na cara de pau. No domingo, cochilei na casa de uma amiga que estreava seu bate-prego. E ontem, enquanto um amigo ouvia o Jornal Nacional no penúltimo volume. É genético. Meu pai é meu mestre. Acabou de almoçar, sai da mesa à francesa, liga a TV e tira aquela soneca. “Soninho da beleza”, como diz um colega meu, jornalista famoso. Por suas máximas, não por suas virtudes estéticas.

Nota de falecimento

Adiei o quanto pude, mas agora não vai ter jeito. Vou ter que aprender a pregar botões. Sim, a prosaica arte de alinhavar bolinhas com furos. E como passar a linha na agulha tendo 7 graus de miopia? Vou ter que achar outra senhora com sorriso aberto sempre disposta a fazer a barra da calça – ou encurtar a saia… – da tarde para a noite. Dona Meire morreu. A dona da loja de moletons na rua Três Rios que fazia consertos, me chamava de “minha filha” e cuidava do neto espoleta. A máquina de costura emudeceu.