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Archive for the ‘Cattleya labiata’ Category

Concha

Menino franzino,
você reparou
que lá de cima
a Vênus de Botticelli
está completamente nua
e contempla
as tuas mãos desvairadas?

Nesse desfiladeiro de notas
em que você se enfiou,
na avalanche de dós
que te franze o cenho,
não é possível
um final feliz.

Mas lembre-se, menino:
a distância entre vocês
é de apenas
um longo veludo vermelho.

A moça branca saiu da concha
só para ouvir você.

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Sou o que sobrou de mim

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Osso

Hoje tô um trapo, em frangalhos, escangalhado.

Um fiapo esgarçado, resto que rasteja, um bagaço no poço.

Um caco estilhaçado, fiasco fracassado. Hoje tô no osso.

Tudo por causa… daquele moço.

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Tenho que aprender a ficar mais tempo sozinha,
a cozinhar porção individual,
a escovar os dentes mesmo sem beijo depois, 
e a me amar mais
do que o próximo.

Como se não bastasse
a falta que sinto
do pedaço da vida que já passou,
a minha própria companhia
não me basta.

Sou uma saudosista
com memória seletiva
e crise de identidade,

A combinação perfeita
pra cair sempre
nos mesmos buracos.

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Samba de segunda

Sábado
eu subo no salto
e caio no samba
com a moçada.

Domingo
levanto bem tarde
e pego um cinema
com o moço.

Segunda
acordo assustada
e lembro o que quero:
casar e ter filhos.

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Azulejos

Meu amigo querido:
penso em azaléias
e escrevo azulejos…

Está difícil domar
neurônios neuróticos.

São pequenas implosões
de um veneno intravenoso

que percorre o corpo todo
causando o caos.

Meu amigo, arrume um fim
porque os que planejei
já não cabem em mim.

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Fumaça de Maria

O problema não é a caixa
de bombons
devorada em tempo record mundial
nem o milkshake com cobertura
extra
às 9h30 da manhã.

O problema é mais amargo, Maria.

São as locomotivas emperradas
que fervem e soltam fumaça,

desesperadas,

que você soterrou no deserto
de dunas fixas.

Maria,
largue esses papeizinhos coloridos
esses doces ilusórios
e use toda a sua força para
botar os trens nos trilhos.

Se não a fumaça
vai continuar a ferver
– até derreter –
a sua cabeça.

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(e) Vidente

Não esqueça que os anjos trabalham a meu favor
E que o mundo é muito menor para quem vive na Grande Pinheiros
E que eu entendo o que os ventos cochicham
E que não existem coincidências, apenas encontros providenciais
E que a vida é cheia de esquinas
E que é fácil esconder sentimentos debaixo do tapete
E que sexto sentido não é uma invenção da minha cabeça
E que eu não preciso de bola de cristal pra saber o que se passa.

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Já usei todas as metáforas possíveis
– de mordida de leão à agulha de crochê –
para descrever
como doem:
cabeça, sobrancelhas, ombros
olhos que não param
abertos e exigem
o breu absoluto.

O corpo todo se contorce
como um feijão novo
e a testa queima
numa febre local
de acender lâmpada
e derreter ideias geniais.

Jogo a toalha
gelada na cabeça,
apago todas as luzes
e entrego meu cérebro 
aos canibais.

Depois de algumas horas
recolho o que sobrou
da massa cinzenta
destroçada
e desmemoriada.

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Ele não me enxerga mesmo. E olha que eu sou alta, uso salto, minissaia, decote, brinco dourado e anel de brilhante falso, é claro. O que eu faço? Subo numa escada, escalo os batentes da porta, pinto a cara de azul ou faço greve de fome? Não, aí é que eu vou sumir mesmo, virar uma tábua. Homem gosta de mulher que tem onde pegar, com peito e bunda. Mais bunda do que peito, para minha infelicidade. Mas tudo bem, a gente dá um jeito, bota uma calça jeans justa e tá tudo resolvido. Vou pra balada rebolar bastante e encher a cara de whisky falsificado pra ficar de cama no dia seguinte assistindo House. E digo pra ele que beijei outro cara ou que vários caras deram em cima de mim. Mas eu não sou disso, ele sabe. Não saio por aí pegando qualquer um. Se bem que com a gente foi diferente. Eu levei ele pra minha cama na primeira noite. E não me arrependo porque me comeu tão bem, mas tão bem. Ainda come, mas não me enxerga. O que adianta me comer direito se não vai reparar no talho que eu abri na testa com esse caco de espelho do banheiro?

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